Madrugada na UTI
- Mundo Com ELA
- 2 de jun.
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Atualizado: 3 de jun.
Vivi um dos momentos mais difíceis da minha vida naquela UTI, mas hoje olho para trás e vejo o quanto fui forte. Sofri abuso não só físico, mas também emocional, por um casal de técnicos de enfermagem, depois de um episódio muito delicado e doloroso. Isso aconteceu na madrugada entre os dias 20 e 21 de dezembro de 2023, uma data que nunca vou esquecer.
A troca da traqueostomia era algo com o qual já estava acostumada — a cada três meses, sempre enfrentava com coragem. Mas, no dia 19 de dezembro de 2023, tudo mudou. Minha saturação caiu para 30% e precisei ficar em observação na UTI. Naquele momento, achei que ia morrer. Meu vestido ficou encharcado de sangue, e lembro de ver o desespero da minha mãe do outro lado do corredor, antes da porta se fechar na minha frente. Foram minutos traumáticos para nós duas.
Na segunda madrugada internada, já estava tão assustada com tudo que havia vivido que até o barulho do BIPAP me perturbava. Meu único refúgio era chorar e chorar.
No meu dia a dia, uso um sensor chamado Tobii, que se conecta ao meu notebook. Esse programa capta os movimentos dos meus olhos e, graças a ele, consigo me comunicar com as pessoas ao meu redor. Sem essa tecnologia, é literalmente impossível para mim me expressar e interagir com o mundo.
O Tobii é, para mim, um verdadeiro facilitador da comunicação visual. No entanto, lembro que, quando precisei ficar na UTI, essa tecnologia estava longe de mim, em algum lugar distante. Por causa disso, ninguém conseguia entender o que eu queria dizer naquele momento. Foi uma sensação muito difícil, pois percebi o quanto dependo dessa ferramenta para me conectar com as pessoas.
A troca de turno já tinha acabado, e eu, sem conseguir falar, estava sufocando com a secreção acumulada no cano da traqueia. O medo de aspirar me dominava, e o pânico tomava conta do meu corpo. Eu chorava, tentando chamar a atenção de alguém, mas parecia que ninguém me via.
Uma técnica chegou perto e perguntou o que estava acontecendo, mas não conseguiu entender meu pedido silencioso de ajuda. Ela simplesmente virou as costas e foi embora, deixando-me sozinha com aquele desespero.
Mais tarde, a dupla se aproximou do leito ao lado para realizar os procedimentos de sempre: troca de fralda, lençóis e aplicação de medicamentos. Quando chegou a minha vez, ouvi a técnica reclamar para o outro técnico que “odiava ouvir minha respiração”, só porque eu estava ofegante e respirava pela boca aberta. Na minha frente, ela reclamava que eu só chorava. Eu só queria ser aspirada!
Sentia-me suja e envergonhada, dominada pelo cheiro insuportável do xixi e do cocô que havia vazado por toda a cama. A espera parecia interminável. Quando finalmente começaram a me trocar, o fizeram com descaso e força desnecessária por parte do técnico de enfermagem masculino, e senti minha cabeça bater contra o colchão, ficando quase fora do leito, puxando a traqueia. A dor foi intensa na região da incisão da traqueostomia no pescoço. Isso foi como uma humilhação besta por parte dele, mas, apesar de tudo, não me deixei abater.
Após o ocorrido lamentável de mais cedo, apareceu uma fisioterapeuta na UTI que me inspirou. O dia já clareava, e eu, mesmo abalada, senti um alívio. Hoje, olhando para trás, vejo que cada lágrima foi uma prova de resistência, cada dor um passo para me tornar mais forte. Não foi fácil, mas sobrevivi, e isso me faz acreditar que posso enfrentar qualquer desafio.
Agora, olhando para trás, percebo que cada lágrima que derramei foi uma demonstração da minha resistência. Cada dor que senti foi, na verdade, um passo que me fez mais forte. Não foi nada fácil, mas eu sobrevivi. E essa certeza me dá a confiança de que posso enfrentar qualquer desafio que vier pela frente.
Se você está passando por algo parecido, saiba que sua dor é válida, mas você é mais forte do que imagina. Nunca se esqueça: você é capaz de superar, de se levantar e de seguir em frente. A força está dentro de você!
Hoje, olhando para tudo que vivi naquela madrugada, sinto que cada lágrima e cada dor me tornaram mais forte. O sofrimento não define quem sou, mas me ensinou a valorizar minha própria resistência e a importância de não desistir, mesmo nos momentos mais difíceis. Aprendi que pedir ajuda, mesmo quando não somos compreendidos, é um ato de coragem. E que, por mais solitário que pareça, sempre existe uma força interior capaz de nos guiar pela tempestade.
Minha história é prova de que, mesmo em situações de extrema vulnerabilidade, podemos encontrar resiliência e esperança. Espero que meu relato inspire quem passa por momentos difíceis a nunca perder a fé em si mesmo e na capacidade de superação. Juntos, somos mais fortes.



Você é uma Guerreira Leide, ver seus relatos sua história nos mostra que Deus está com você sempre e nos dá força pra nunca desistirmos de nada pois problemas vem , dores, tudo mas sempre temos que ter aquela força e você nos mostra isso