ELA, a Inquilina da Noite: Reflexões de uma Insônia.
- Mundo Com ELA
- 12 de jun.
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3h17 da madrugada – O despertador não toca, mas algo me arrasta para este purgatório noturno. Nem o alprazolam na dosagem certa, nem a valeriana, nem aquele chá amargo que juraram ser infalível. Meu corpo desafia a química, minha mente sabota o repouso, e eu fico aqui, espiã da minha própria insônia, contando as fissuras no teto que o escuro insiste em esconder.
É um ciclo perverso de exaustão e irritação: quando o sol finalmente nasce, carrego nas órbitas olheiras de guerra e, na alma, um pavio curto que transforma café derramado em crise existencial. Meu humor vira armadilha de arame farpado – machuca quem ousa se aproximar, sangra quem insiste em ficar. E no centro desse furacão, ELA – essa entidade sem rosto que habita meus neurônios, alimentando-se da minha inquietação, regurgitando ansiedades antigas como se fossem profecias novas.
Os palavrões ecoam no vazio do quarto, súplicas em código morse que ninguém decifra. Há dias em que me sinto uma marionete de nervos expostos, cada fio puxado por ELA me faz dançar uma coreografia de angústia. Até meu travesseiro parece julgador, acumulando lágrimas secas como evidências da minha fragilidade.
Mas hoje, entre um suspiro e outro, resgatei uma verdade roubada: ELA não é dona, é inquilina. Toda essa raiva que transborda? É medo disfarçado de fúria. Toda essa impaciência? Grito abafado por cansaço crônico. Enquanto escrevo, descubro que até nos piores episódios insones existe uma parte de mim que ainda luta – aquela que insiste em acender a tela do celular para registrar este manifesto noturno, prova viva de que ainda há quem resista dentro de mim.
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